Peso gráfico – Representação de projetos de arquitetura (NBR-6492) – III

Assim que o aluno inicia a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – nas disciplinas de 1º semestre – ele é apresentado à Representação gráfica de projetos de arquitetura. O nome da disciplina varia em cada escola: Desenho Técnico, Expressão Gráfica, etc.

Vem aquela lista imensa de materiais: par de esquadros, régua T, transferidor, compasso, “mata-gato” (vocês conhecem?), lapiseiras 03-05-07-09…

Estas últimas – as lapiseiras – são os instrumentos manuais mais importantes para despertar no aluno a sensibilidade para uma questão primordial na correta representação de um projeto: o peso gráfico.

As diferentes espessuras dos grafites são utilizadas para o desenho de diferentes elementos em planta baixa, em corte e em elevação.

Em geral, a lapiseira 03 é utilizada para a confecção de linhas de construção do desenho.

Na sequência, a lapiseira 05 é utilizada para elementos que estão cortados, mas que na ordem de importância são representados mais finos que os demais: caixilhos/portas/janelas, soleiras, mobiliários, peças fixas, etc. Também costuma-se utilizar para as simbologias, cotas, etc.

A lapiseira 07 vai dar o peso necessário à alvenaria. Já a lapiseira 09 pode ser utilizada para os elementos estruturais (pilares, em planta, e vigas e lajes nos cortes).

Esta “simplificação” dos pesos gráficos atribuídos aos elementos representados funciona muito bem na escala 1:100 – que é a escala usualmente utilizada nas disciplinas de Desenho Técnico/Expressão Gráfica.

Consegue, inclusive, atender ao peso gráfico estabelecido pela NBR 6492 – Representação de projetos de arquitetura.

Esse conhecimento prévio destas disciplinas de desenho são fundamentais às disciplinas de Projeto de Arquitetura.

Mas o que acontece, de maneira geral? Os alunos tendem a ter uma dificuldade grande em aplicar o conhecimento adquirido nas disciplinas de desenho na hora de apresentar os primeiros projetos, nas disciplinas seguintes do curso.

Um dos motivos principais é que dificilmente um projeto é desenvolvido na escala 1:100 nas disciplinas de Projeto de Arquitetura – salvo na primeira disciplina de Projeto, onde o tema, em geral, é a residência unifamiliar (ou seja, um projeto com dimensões reduzidas).

É bastante comum projetos acadêmicos serem desenvolvidos nas escalas 1:200, 1:250 (teatros, museus, multifuncionais, etc) – desenhos, portanto, MENORES daqueles feitos na escala 1:100.

Algumas faculdades possuem também disciplinas de Projeto de Interiores e Projeto Executivo; neste caso as escalas de representação de plantas passam a ser 1:50, 1:25 e de detalhes em 1:10, 1:5 etc – desenhos, portanto, MAIORES daqueles feitos na escala 1:100.

Representação gráfica - Planta de Guarita - Escala 1:50
Planta de Guarita – Base para Detalhamento na  disciplina de Projeto Executivo – Escala 1:25

Considerando um projeto acadêmico “típico”, há diferentes escalas reunidas; por exemplo, a Planta de Situação (1:750), a Implantação (1:250), Plantas, Cortes e Fachadas (1:200 ou 1:125), Detalhes. Isso significa que o peso atribuído a alvenaria, por exemplo, na escala 1:125 e que tenha ficado correto não ficará correto na escala da Implantação – precisa ser ajustado.

O uso de softwares de desenho – como o Autocad – ajuda muito no ganho de tempo na produtividade dos desenhos mas precisa que o aluno entenda que o programa em si não resolverá as questões de peso gráfico sozinho.

Em outras palavras, para cada escala de desenho é necessário ajustar o peso gráfico dos elementos representados!

No caso específico do Autocad, o peso gráfico é dado através da configuração do arquivo CTB (arquivo de plotagem) que atribui a cada cor utilizada no desenho um peso específico.

O peso de linhas aprendido no primeiro semestre – e dado pela NBR 6492 – serve para a escala 1:100. Para todas as demais escalas, é necessário bom senso e muita prática.

A regra geral é: os elementos representados em planta, corte e fachada possuem uma hierarquia de pesos gráficos que independem da escala de desenho.

Isto é, pilares (cortados) sempre serão mais “fortes” que alvenarias (cortadas) qualquer que seja a escala. Alvenarias serão mais “fortes” que caixilhos.

Representação gráfica - Exemplo de Detalhamento de Banheiro na Escala 1:25
Exemplo de Detalhamento de Banheiro na Escala 1:25

Para um entendimento do uso de layers do Autocad e os diversos tipos de Linhas de Representação a ASBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) edita um Manual que auxilia na correta configuração dos arquivos ctb (arquivos de configuração de plotagem do Autocad). O manual pode ser baixado neste link.

Como regra geral, atribuímos a sequencia de cores principais do Autocad a hieraquia de cores. Assim, a cor vermelha terá o peso (“lineweight”) 0.1 mm, o amarelo 0.2mm, verde 0.3mm, cyan 0.4mm, azul 0.5mm e magenta 0.6mm.

Uma vez configurado este CTB, é necessário atribuir a cada elemento de desenho uma cor.

Costumo utilizar para escalas 1:50, 1:100, 1:125, a alvenaria alta (cortada) como azul (blue), pilares, vigas e lajes (cortados) como magenta, mobiliário e cotas como vermelho, letras e simbologia como amarelo ou verde e por aí vai. Isso deve ser configurado para cada escala, como vimos acima.

Representação gráfica - Linhas de RepresentaçãoLinhas de Representação

Assim, cada elemento do desenho precisa estar corretamente desenhado no respectivo layer, de forma que na impressão/plotagem do arquivo o Peso Gráfico esteja atendendo ao que estabelece a Norma.

Na “vida real” é praxe do mercado produzir os desenhos principais na escala 1:50, com seus respectivos detalhamentos em escalas 1:25.

Observação importante: estas informações são direcionadas a projetos acadêmicos – para projetos “da vida real” é indispensável a contratação de um Arquiteto para a verificação das necessidades de seu projeto e adequações a legislação de sua municipalidade.

 

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