Estudo de Viabilidade Técnica e Legal – Numérico (parte 7) – Dimensionamentos – Circulação Vertical

Nós que temos o hábito de fazer Estudos de Viabilidade Técnica e Legal (EVTL) já temos algumas “cartas na manga”, ou seja, já dispomos de material que já utilizamos em outros projetos para dar embasamernto numérico para nossos cálculos.

No que se refere ao desenho propriamento dito, uma coisa que já constumamos ter “prontos” são as Circulações Verticais, ou seja, o conjunto formado por escada mais elevadores, formando o também chamado Núcleo Rígido da Edificação.

Cada projeto, no mundo real, terá uma caixa de elevadores calculada de acordo com a População do Edifício, sua altura total de percurso, número de paradas. Estes dados são enviados para empresas que fornecem elevadores (como Atlas, Otis, Thyessen, etc) que farão o cálculo e nos dirão as dimensões exatas da caixa de corrida (o vazio por onde passam os elevadores), altura de Casa de Máquinas, altura de Poço de Molas, última altura livre, etc.

Para um Numérico, costumamos usar um valor que atenda a maior parte dos projetos (como 2,00 x 2,00m, por exemplo). Neste exemplo específico utilizei um “vazio” para a caixa de corrida com 2,00 x 1,80m, pois estou considerando um número máximo de 10 unidades habitacionais por pavimento. Sempre que puder, utilize valores com folga (2,05 x 2,05m por exemplo). Como estamos em ZEU e a circulação vertical e horizontal computa no uso R e a circulação horizontal computa no uso nR, sendo a circulação vertical não computável para nR.

Com relação à escada ocorre parecido. Por experiência, para esta população considerada por pavimento e total, preciso de 2 Unidades de Passagem ( 2 x 0,55cm) na escada, ou seja, uma escada que tenha cada lanço com 1,20m de largura me atende. Para este cálculo, verificar a IT-11 do Corpo de Bombeiros.

Costumo dizer aos alunos que o entendimento de uma Escada é um dos maiores desafio de um Arquiteto. Não só pelas questões técnicas (como atender a IT-11, a NBR 9050, o COE – ter altura livre de 2,30m – e a fórmula de blondel), mas principalmente pela descontinuidade da escada no pavimento de fuga (IT-11).

Em termos práticos, a descontinuidade significa que pelo desenho da escada, a pessoa é “obrigada” a sair de dentro dela no pavimento de fuga, evitando que ela continue percorrendo a escada em caso de incêndio.

Em outras palavras, considerando um edifício que tenha subsolos e o pavimento de fuga seja o térreo:

  • quem sobe do subsolo em direção ao térreo, sai pela escada no pavimento de fuga (neste caso o próprio térreo);
  • quem desce do pavimento Tipo em direção ao térreo, sai pela escada no pavimento de fuga (neste caso o próprio térreo)

Em resumo, 1 única escada terá 2 portas de saída independentes no térreo (ou no pavimento de fuga).

O desafio se torna mais complexo porque os Piso-a-Pisos da Edificação variam.

  • o último pavimento tipo costuma ter 1 degrau a mais, para resolver questões técnicas da cobertura descoberta que fica acima dele – no nosso exemplo, ele possui PP 3,24m, para garantir forro a 2,50m.
  • o pavimento tipo adotamos neste projeto 3,06m.
  • o 1º pavimento terá uma escada diferente sempre que o pavimento térreo tiver um Piso a Piso diferente (como é o nosso caso).
  • o Pavimento Térreo tem Piso a Piso maior por várias razoes: no teto dele costumam ocorrer desvios e instalações, a estrutura geralmente faz transições que nececitam de vigas altas, a Fachada Ativa se beneficia em ter 2 pavimentos, o térreo ganha suntuosidade com um PP maior (no nosso caso, 5,76m). Além disso, lembrando da descontinuidade da escada (pois no nosso caso ele é o pavimento de fuga), ele precisa ter especial atenção, pois costuma ocupar uma área maior.
  • o Primeiro Subsolo também precisa de altura maior para garantir a saída de esgoto (para ter caimento), entrada de energia, estrutura fazendo transições no teto, etc. Adoto 3,60m.
  • o Segundo Subsolo costuma ainda ter algum tipo de necessidade técnica, mas pode ser mais baixo que o primeiro. Adoto 3,06m.
  • a partir do terceiro Subsolo, em geral, adoto 2,88m pois as questões técnicas já foram solucionadas nos outros subsolos e quanto mais baixo o PP, menor a rampa. Adoto 2,88m.

Desta forma, somente nesta torre simples, temos 7 variações de escada, ou seja, 7 núcleos rígidos com desenhos diferentes (embora em planta ocupem o mesmo espaço, com exceção do térreo).

Para garantir a assertividade das áreas do Numérico, vamos desenhar cada circulação vertical e verificar sua área, através de hachura. Vamos também considerar que as paredes laterais, que dividem com unidades habitacionais ou nR sejam todas da Unidade (ou seja, esta parede é computável privativa da unidade) nos pavimentos Tipo.

OBS: Na hora de lançar a área em sua tabela Numérica, lembre-se que no térreo R, a circulação é não computável (tanto vertical quanto horizontal). No Térreo nR, a circulação horizontal é computável ou pode ser utilizada metragem do Benefício Incentivo nR, caso seu projeto tenha Fachada Ativa e Uso Misto e a circulação vertical é não computável (COE, Art. 108, VIII) . Nos subsolos, observada a cota parte de 32m² por vaga, e as limitações de número de vagas dadas pela LPUOS, as circulações de pedestres são não computáveis no R e computáveis no nR (ou utilizam parte do Benefício Incentivo nR).

3º SUBSOLO – Piso a Piso 2,88m

Neste caso, por ser o último subsolo, a escada é interrompida a 1,50m de altura aproximadamente e como não há 4º subsolo, vemos um espaço vazio e os degraus que estão acima de 1,50m em projeção.

Fonte: Sbarra (2024)

A área em azul corresponde a 30,23m². Repare que da área total ocupada pela escada e elevadores, nós descontamos os vazios da caixa de corrida e de shafts (eles precisam ter as dimensões justificadas por Memorial Justificativo ao se dar entrada em um projeto Legal na prefeitura de São Paulo). Por convenção, nós deixamos para contabilizar os vazios no Pavimento térreo, pois eles são área coberta. Como o PP = 2,88m, precisamo de 16 degraus de 0,18cm de espelho (altura).

Fonte: Sbarra (2024)

2º SUBSOLO – Piso a Piso 3,06m

No segundo subsolo, nós enxergamos a escada que vem do 3º subsolo (16 degraus) e enxerrgamos (até 1,50m de altura) a escada que vai ai 1º subsolo (que por ter PP 3,60m, precisará de 20 degraus)

Fonte: Sbarra (2024)

A mancha terá a mesma área, pois independe do número de degraus, ou seja, 30,23m².

Fonte: Sbarra (2024)

1º SUBSOLO – Piso a Piso 3,60m

Percebam que a disposição de degraus já começa a tomar quase todo o espaço disponível da escada, uma vez que o primeiro subsolo vence um Piso a Piso de 3,60 e precisa ter, portanto, 20 degraus ao chegar no térreo.

Fonte: Sbarra (2024)
Fonte: Sbarra (2024)

A mancha terá a mesma área, pois independe do número de degraus, ou seja, 30,23m².

TÉRREO – Piso a Piso 5,76m

O térreo, como dissemos acima, terá 2 saídas da escada. Além disso, por necessitar de mais degraus para chegar ao 1º pavimento (5,76 / 0,18 = 32 degraus) terá que ter um formato diferenciado dos demais pavimentos.

Fonte: Sbarra (2024)

Lembrando que as portas das escadas no pavimento de fuga abrem para fora.

Fonte: Sbarra (2024)

Como esperado, a área ocupada pela circulação vertical no térreo é maior e além disso estamos contrabilizando os vazios, chegando em uma área de 48,06m². lembrando que no R esta área é não computável e no nR ela é computável (ou considerada dentro da área de Benefício nR Incentivado)

1º PAVIMENTO – Piso a Piso 3,06m

Apesar de ter o mesmo Piso a Piso do Tipo, vamos lembrar que a escada que chega no 1º pavimento precisa vencer os 5,76m do Térreo, ou seja, precisa ter 32 degraus. perceba que chegamos no limite possível de acomodação de degraus, sem que interfira com a área de resgate de PCD e nem com a aproximação de portas.

Fonte: Sbarra (2024)
Fonte: Sbarra (2024)

Lembrando que estamos considerando que as paredes laterais do núcleo rígido (escada + elevadores) pertenceram á área privativa das unidades (assim diminuímos área de circulação computável e aumentamos a privativa), nossa área da escada diminuiu para 28,20m².

PAVIMENTO TIPO – Piso a Piso 3,06m

O tipo sempre precisará de 17 degraus , para vencer 3,06m.

Fonte: Sbarra (2024)
Fonte: Sbarra (2024)

Adotamos o mesmo critério do 1º Pavimento, considerando que as paredes laterais do núcleo rígido (escada + elevadores) pertenceram á área privativa das unidades (assim diminuímos área de circulação computável e aumentamos a privativa), nossa área da escada nos pavimentos tipo se mantém 28,20m².

ÚLTIMO PAVIMENTO – Piso a Piso 3,24m

A escada do último pavimento tem um degrau a mais e não continua a subir, por isso costumamos fechar com alvenaria ou guarda corpo a parte que seria o início de subida para outro pavimento. Para acessar o Àtico, que fica acima, costuma-se usar escada marinheiro que fica acessível por alçapão no teto do último tipo (geralmente na circulação horizontal).

Fonte: Sbarra (2024)
Fonte: Sbarra (2024)

Adotamos o mesmo critério do Tipo, considerando que as paredes laterais do núcleo rígido (escada + elevadores) pertenceram á área privativa das unidades (assim diminuímos área de circulação computável e aumentamos a privativa), nossa área da escada se mantém 28,20m².

CORTE

Para se fazer uma escada é fundamental fazer junto um corte. Sem ele você não terá certeza da altura livre de 2,30m exigida pela IT-11. (com tolerância para 2,10m para elementos estruturais)

Fonte: Sbarra (2024)

Para citar este artigo corretamente:

SBARRA, Marcelo. Estudo de Viabilidade Técnica e Legal – Numérico (parte 7) – Dimensionamentos – Circulação Vertical. Marcelo Sbarra, São Paulo, 16 set. 2024. Disponível em: https://marcelosbarra.com/2024/09/16/estudo-de-viabilidade-tecnica-e-legal-numerico-parte-7-dimensionamentos-circulacao-vertical/ Acesso em 16 de set. 2024.

Observação importante: estas informações são direcionadas a projetos acadêmicos – para projetos “da vida real” é indispensável a contratação de um Arquiteto para a verificação das necessidades de seu projeto e adequações à legislação de sua municipalidade.

© Marcelo Sbarra. Os projetos mostrados neste artigo são protegidos pela Lei de Direito Autoral (Lei 9.610/98) e Resolução 67/2013 do CAU/BR.

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